Junho Vermelho: Qual é a importância da doação de sangue e como ela é realizada?

No mês de junho é realizada a campanha de conscientização sobre a importância da doação de sangue, chamada de Junho Vermelho. As campanhas normalmente são realizadas por hospitais e bancos de sangue das cidades, e convidam a população a serem doadores. Isso é importante para manter o estoque nos bancos de sangue. Mas afinal, como surgiu a transfusão de sangue? Esse artigo contará um pouco mais sobre o início das doações de sangue e como elas são feitas nos dias de hoje.

A utilização do sangue para fins terapêuticos tem sido empregada pelo ser humano a séculos. Na antiguidade, as pessoas bebiam o sangue de animais e pessoas pois acreditavam que seriam curadas de doenças. Essa prática acontecia pois o homem já sabia que a perda de sangue provocava problemas na saúde e bem estar, e que poderia levar à morte (COTIAS, 2013). Já no período pré-científico o sangue animal era injetado na veia dos pacientes. Em 1670, após inúmeras mortes causadas pela transfusão de sangue animal em humanos, a Academia Nacional de Medicina da França proibiu a prática, e no decorrer do século XVII, o sangue humano passou a ser o único tipo de sangue utilizado em transfusões (VIZZONI, 2015).

Durante muito tempo a tentativa de utilizar o sangue como medida terapêutica falhou, levando os pacientes à morte após a transfusão. Isso ocorria pois naquela época ainda não se tinha conhecimento acerca dos grupos sanguíneos e por isso gerava incompatibilidade. Raramente o paciente tolerava o sangue que era transfundido e melhorava da enfermidade. Com a chegada do período científico no início do século XIX, foi descoberto os grupos sanguíneos e explicado o motivo da incompatibilidade durante as transfusões (VIZZONI, 2015).

 A hemoterapia no Brasil

O início da hemoterapia no Brasil se deu na década de 1940. Na época, os doadores recebiam um pagamento pelo sangue que doavam. Somente em 1950 que as doações passaram a ser obrigatoriamente voluntárias, após a promulgação da Lei Federal n° 1.075 de 27 de março de 1950. Essa lei tinha o objetivo de estimular a doação voluntária de sangue, abonando um dia de trabalho do funcionário público. Doadores que não eram funcionários públicos eram reconhecidos entre aqueles brasileiros que prestavam serviços relevantes à nação.

Passo a Passo para a Doação de Sangue

Captação e Seleção do doador

A captação de doadores é uma atividade que busca conscientizar a respeito da importância de ser doador voluntário, a fim de suprir as necessidades de sangue pelos serviços de hemoterapia. Atendimento na recepção para realização de um cadastro. Após o cadastro o candidato passa por uma entrevista realizada por um profissional de saúde, onde se busca avaliar seus hábitos de vida e consequentemente identificar possíveis riscos de transmissão de doenças pelo sangue doado.

Triagem Clínica e Coleta

A triagem é uma avaliação clínica e epidemiológica do candidato que irá analisar os antecedentes e o estado atual do candidato a doador para determinar se a coleta de sangue pode ser realizada sem causar prejuízos ao doador e se a transfusão poderá causar risco para o receptor. Após a triagem, inicia-se a coleta. Em cerca de 15 minutos são coletados 460 mL de sangue e amostras para a realização de exames. Após a coleta, o doador poderá tomar um lanche para compensar o volume de sangue retirado, e será orientado sobre os cuidados que deverá ter após a doação.

Pós-coleta e Fracionamento

Terminada a coleta, o sangue doado será submetido a vários exames, dentre eles o tipo sanguíneo ABO e Rh, testes de doenças transmissíveis pelo sangue como hepatites B e C, HIV, sífilis, HTLV e doença de Chagas. Atualmente, as transfusões de sangue não são feitas com o sangue total coletado nas bolsas. Essas bolsas passam por uma fase de fracionamento onde o sangue total é separado em hemocomponentes, partes que compõem todo o nosso sangue, como concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas, plasma e crioprecipitado. Cada um desses hemocomponentes exercem uma função no momento de salvar vidas nos hospitais atendidos. (SERVIÇO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA, 2023).

Compatibilidade Sanguínea

Fonte: GSH Banco de Sangue

Para doar sangue é necessário:

Dormir no mínimo 6 horas na noite anterior; estar bem de saúde; ter idade entre 18 e 69 anos, 11 meses e 29 dias; autorização dos pais em caso de doadores menores de 18 anos (entre 16 e 17 anos); pesar mais de 50kg; não ser usuário de drogas; não estar grávida ou amamentando; não ter efetuado contato sexual com pessoas que tenham comportamento de risco para doenças transmissíveis pelo sangue; estar bem alimentado, observando o intervalo mínimo de 2 horas após o almoço e 1 hora após o café ou lanche, não ultrapassando 4 horas sem alimentação; portar documento original com foto; não fumar duas horas antes da doação; não ingerir bebidas alcoólicas 12 horas antes da doação (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2022).

Vale lembrar que no Brasil, 14 em cada mil habitantes doam sangue regularmente, segundo dados do Ministério da Saúde. Durante a pandemia de Covid-19 houve uma queda de 10% nos números de doações, e apesar de ter subido, ainda estamos com um nível abaixo do ideal de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) (CNN Brasil, 2022). Por isso, neste mês de junho procure o banco de sangue da sua cidade e seja um doador. Ajude a salvar vidas!

Referências bibliográficas

COTIAS, P. M. T.; VIZZONI, Al.G. Imuno-hematologia eritrocitária. In: CAMPOS, M.B.S.; RIBEIRO, F. C.; VIZZONI, A.G. (org.). Conceitos básicos e aplicados em imuno-hematologia. Rio de Janeiro: EPSJV, 2013. Cap. 3, p. 65-98.

GUIMARÃES, Pedro. 1,4% da população brasileira doa sangue regularmente, aponta Ministério da Saúde. In: CNN BRASIL. 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/14-da-populacao-brasileira-doa-sangue-regularmente-aponta-ministerio-da-saude/#:~:text=A%20seguir-,1%2C4%25%20da%20popula%C3%A7%C3%A3o%20brasileira%20doa%20sangue,regularmente%2C%20aponta%20Minist%C3%A9rio%20da%20Sa%C3%BAde&text=No%20Brasil%2C%2014%20em%20cada,dados%20do%20Minist%C3%A9rio%20da%20Sa%C3%BAde. Acesso em: 29 abr. 2023.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Junho vermelho traz atenção para a doação de sangue. In: GOVERNO FEDERAL. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. [S. l.], 9 jun. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sul/he-ufpel/comunicacao/noticias/junho-vermelho-traz-atencao-para-a-doacao-de-sangue#:~:text=O%20Junho%20Vermelho%20%C3%A9%20campanha,import%C3%A2ncia%20da%20doa%C3%A7%C3%A3o%20de%20sangue. Acesso em: 28 abr. 2023.

SERVIÇO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA (São José dos Campos). Passo a Passo da Doação. In: Serviço de Hematologia e Hemoterapia . [S. l.], 2023. Disponível em: https://www.shhsjc.com.br/banco-de-sangue/#passo-a-passo-da-doacao. Acesso em: 28 abr. 2023.

VIZZONI, Alexandre Gomes. Captação, Seleção e Doação de Sangue. In: GOMES VIZZONI, Alexandre. Fundamentos e Técnicas em Banco de Sangue. 1ª. ed. [S. l.: s. n.], 2015.

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