Origens do Patriarcado e Imposições de Gênero

Figura 1 - “O grito da Liberdade”, Dafne MS, 2019.

Fonte: Acervo pessoal da artista, 2019

 

Frente à sociedade atual, demarcada por disparidades de gênero, você já se questionou as origens do patriarcado? Em termos teóricos, não há consenso de uma exata datação que delimita seu começo. No entanto, acredita-se que ele foi resultado de uma série de processos históricos que duraram cerca de 2.500 anos. À medida que civilizações nômades passaram pela sedentarização, novas relações surgiram, de modo que os homens gradativamente dominaram a produção e o abastecimento de suprimentos. Descobrindo sua importância na reprodução e preservação da vida, exigiram que as mulheres garantissem sua paternidade e a transmissão direta de bens para filhos. Essa subordinação às restringiu ao ambiente doméstico e as primeiras marcas de opressão se materializaram.

Se olharmos profundamente para este contexto, entenderemos, então, que a hierarquia se firmou com base na dominação sexual. À medida que o tempo passava e novas estruturas sociais surgiam, essas relações foram se adaptando. Logo, controlar o corpo considerado feminino envolve questões políticas, econômicas e até religiosas. Noções como a pureza, a preservação da virgindade, o papel de mãe e cuidadora do lar fazem parte deste controle.

Aqui no Brasil, sua chegada mistura-se com a colonização. As colonas, a princípio, tinham a obrigação de servir ao marido e à família. Já indígenas e africanas escravizadas eram forçadas tanto ao trabalho braçal quanto ao sexo. Muitos séculos já se passaram, mas ainda existe uma “cartilha social” que privilegia mulheres brancas, heterossexual, cisgênero, de alto poder aquisitivo, casadas, com filhos e preferencialmente católicas, em uma exportação de fundamentos europeus.

Ao passo que nos afastamos desses estereótipos, menos nos enquadramos no que é socialmente aceito, no que é dito ser “mulher”. Antes de prosseguirmos, é necessário pontuar que gênero é um entendimento, além de identitário e pessoal, estritamente cultural, que traça comportamentos para os sexos biológicos, variando e se modificando em decorrência do tempo e espaço. Ou seja, mesmo com uma maior conscientização feminina e busca por emancipação, o patriarcado resiste. As raízes de nosso passado transparecem no que diz respeito ao racismo, à misoginia, à transfobia e a diversas intolerâncias perpetuadas frequentemente no cotidiano.

“Para as mulheres, a classe é mediada por meio de seus vínculos sexuais com um homem. É através do homem que as mulheres recebem ou perdem acesso aos meios de produção e a recursos. É por meio de seu comportamento sexual que ganham acesso à classe. “Mulheres respeitáveis” ganham acesso à classe por meio de pais e maridos, mas ao quebrar as regras sexuais pode rebaixá-las de classe. A definição sexual de “desvio” marca uma mulher como “não respeitável”, o que de fato confere a ela o mais baixo status social possível. As mulheres que se abstém de serviços heterossexuais (tais como mulheres solteiras, freiras, lésbicas) estão conectadas ao homem dominante de sua família de origem e, através dele, recebem acesso a recursos. Ou, de outra forma, são rebaixadas. Em alguns períodos históricos, conventos e outros enclaves para mulheres solteiras criaram espaços fechados nos quais essas mulheres podiam desempenhar sua função e manter a respeitabilidade. Mas a grande maioria de mulheres solteiras é, por definição, marginalizada e dependente da proteção de parentes homens. Isso se provou verdadeiro ao longo da história até meados do século XX no mundo ocidental, e hoje ainda é verdade na maioria dos países subdesenvolvidos. O grupo de mulheres independentes e autossuficientes que existe em toda sociedade é pequeno e, em geral, bastante vulnerável ao desastre econômico.” (LERNER, 2019, p. 265).

Como a própria autora e historiadora Gerda Lerner (1920-2013) pontua em seu livro “A Criação do Patriarcado: História da Opressão das Mulheres pelos Homens” (2019):

“É apenas por meio da descoberta e do reconhecimento de suas raízes, seu passado, sua história, que as mulheres, assim como outros grupos, tornam-se capazes de projetar um futuro alternativo. A nova visão das mulheres exige que elas sejam colocadas no centro, não apenas de eventos, onde sempre estivemos, mas do trabalho universal de reflexão. As mulheres estão exigindo, como fizeram os homens durante o Renascimento, o direito de definir, o direito de decidir.” (LERNER, 2019, p. 294).

 

Referência bibliográfica

LERNER, Gerda. A criação do patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens. São Paulo: Cultrix, 2019.

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