Referências Artísticas para Conhecer Mais

* O texto abaixo compõe a pesquisa de TCC “R(e)existências Populares; Medicina da Floresta, Corpo e Memória Ancestral”(2023) e foi cedido pela autora para compor a nova edição da Revista Pra Toda Gente.

Caro leitor, é com orgulho e carinho que apresento nesta publicação parte de minha pesquisa que compõem texto adaptado de meu artigo de conclusão de curso para formação como bacharel em Artes Visuais. O trabalho material e instalativo bem como a escrita do artigo pontuam investigações artísticas de diversas áreas de conhecimento que compõem o mesmo, pensadas a partir da linguagem da instalação e portanto como temática de pesquisa artística sobre medicinas da floresta, memória ancestral e cultura popular. Diante disto, escolho artesãs do barro e suas práticas, a partir da pesquisa de suas poéticas, técnicas e trajetórias com esta matéria,com o intuito de fazer uma seleção de artistas mulheres a partir de uma produção contemporânea de seus trabalhos, exposições, mostras de arte, exibições e trajetórias coletivas e individuais. Investigo portanto textos curatoriais, instituições, museus, autores, pesquisadores, artistas a partir da perspectiva dos desdobramentos de suas pesquisas em obras com a matéria do barro, bem como a partir de minha pesquisa sobre memória, pertencimento e identidade, tecnologias ancestrais, a exemplo da cerâmica.

 

Lídia Lisbôa

Lídia Lisbôa é artista plástica, ceramista e performer. Cursou Gravura em metal no Museu Lasar Segall, escultura contemporânea no Museu Brasileiro de Escultura (MuBE), cerâmica no Liceu de Artes e Ofícios, e História da Arte no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Seu trabalho recebeu o Prêmio Maimeri 75 anos (1998) e o II Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras (2012). Nascida em Guaíra, no estado do Paraná, vive e trabalha em São Paulo. A série de trabalhos intitulada "Cupinzeiros" da artista Lídia Lisboa faz parte de uma pesquisa escultórica em cerâmica. Interessa a investigação destes trabalhos pelo estudo de formas não humanas como os cupins. Organismos da mata de formações orgânicas que se projetam no espaço e na paisagem. Sua investigação como artista é atravessada por sua ancestralidade afro-brasileira. A representação das formas destes organismos não humanos e sua relação material da cerâmica se desdobram também sobre outras materialidades, a exemplo do tecido, por meio da prática artística do crochê. Esta confluência temática também é elaborada pela artista por meio da performatividade, sobre a perspectiva expandida das linguagens técnicas:  vídeo e performance.

Figura 1 - “Cupinzeiros”, Lídia Lisbôa. Fotografia : Henrique Saad

Fonte: https://amlatina.contemporaryand.com/pt/people/lidia-lisboa/

 

Rosana Paulino

Rosana Paulino é uma artista multidisciplinar, de origem paulista. A artista trabalha com técnicas multilinguagem. Dentre os temas de seu trabalho: memória, cultura e o corpo de representações de vivências de mulheres afro-brasileiras. A artista trabalha com uso de fotografia documental, por meio de uma investigação da memória coletiva e individual. Parte de uma das suas obras expostas na Pinacoteca de São Paulo, em sua mostra individual "Rosana Paulino : Costura da Memória" de Curadoria de Valéria Piccoli e Pedro Nery entre 2018 e 2019, a série intitulada "Tecelãs, Número I com casulos", de 2003, esteve presente em uma instalação de acúmulos destes causos e formas orgânicas de cerâmica e barro, ocupando o espaço expositivo. A artista desenvolve uma série de desenhos e estudos de representações de corpos femininos, que se desdobram em formas escultóricas cerâmicas. Os desenhos possuem formas e relações arquetípicas de interseccionalidade de gênero, raça e classe, corpo e natureza bem como ancestralidade e memória.

Fig. 2 - “Número I com casulos” (2003), série “Tecelãs”, Rosana Paulino

Fonte: https://mendeswooddm.com/pt/artists/35-rosana-paulino/works/40442-rosana-paulino-numero-i-com-casulos-2003/

 

Sallisa Rosa

Sallisa Rosa (Goiânia, GO, 1986), vive no Rio de Janeiro e é uma artista visual indígena brasileira. Trago como referência seu trabalho na exposição intitulada "Supernova" que ocupou o espaço expositivo do MAM - RJ com esculturas de cerâmica e adobe. Investigando sua pesquisa e exposições atuais, me deparei com seu trabalho de cerâmica que produz materializações de suas memórias com sua genealogia. Como cita a curadora Beatriz Lemos:

"Ela desenvolve uma relação muito forte com o barro e o adobe. O adobe é uma mistura de terra e materiais orgânicos, moldados em diferentes formas, utilizados para subir paredes de barro, das mais variadas formas de muro, casa, fornos. Em sua trajetória, busca práticas artísticas voltadas para construções coletivas, no sentido de desdobrar obras em atividades artístico-pedagógicas, formular conversas, partilhar saberes. Como também cita a curadora Beatriz Lemos em seu texto sobre as obras,  “Urna da memória” (2021), realizada em cerâmica, materializa a lembrança de sua avó, simbolizando sua ancestralidade”. (Lemos, 2021).

Fig. 3 - “Urna da memória” (2021),  Exposição “Supernova”, MAM RJ, Sallisa Rosa,

Foto : Fábio Souza

Fonte: https://mam.rio/programacao/supernova-sallisa-rosa/

Fig. 4 - “Urna da memória” (2021),  Exposição “Supernova”, MAM RJ, Sallisa Rosa, Foto Fábio Souza.

Fonte: https://mam.rio/programacao/supernova-sallisa-rosa/

Dagmar Muniz de Oliveira

Dagmar Muniz de Oliveira, de origem da Costa do cacau (BA), foi artesã do barro em olarias, a partir de sua prática da cerâmica familiar e ancestral. Dagma foi moradora da cidade de Belmonte (BA), também se autodeclarava como filha do barro. Sua família beneficia o barro na Olaria "14 irmãos". Ademais, sua artesania e produção de beneficiamento do barro, localizados na região do vale do jequitinhonha, na Bahia, é característica também de outros territórios tradicionais brasileiros, diante do exercício criativo, artesanal e popular de mulheres indígenas e negras em seu ofício com o barro. Escolho a instalação multimídia do artista Rodriguez Remo, junto da artesã. Ambos artistas apresentam o trabalho conjunto de videoinstalação no Trigésimo Sétimo Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). A obra é referência de pesquisa para investigação de práticas ancestrais de cerâmica no campo expandido. A vídeoinstalação[1] possuía elementos de multilinguagens, a exemplo de iluminação, telas de vídeos com reproduções de seus documentários, sons acoplados aos vasos, de modo a produzir ocupação relacional e sensitiva entre matéria, corpo, imagens sonoras e audiovisuais presentes em documentários - os quais abordavam a vivência de Dagmar e processo de criação com barro, em sua prática como ceramista ancestral. As imagens produzidas e reproduzidas em vídeos  evidenciam seu cotidiano e sua relação com a sobrevivência de povos tradicionais brasileiros, bem como a resistência de sua família a partir do beneficiamento do barro em sua Olaria. 

  Fig. 5 - Vistas da Exposição: Videoinstalação "Dagmar, Filha do Barro", de Rodriguez Remor, no 37° Panorama da Arte Brasileira, no MAM. Foto : Renato Parada

Fonte: http://www.rodriguezremor.art/2022/09/10/dagmar/

 

 

Nota de rodapé

[1] Videoinstalações é uma forma de expressão características como ocupação do espaço com objetos, mídias, dispositivos, ou mesmo composição cenográfica de uma ocupação multissensorial de acesso a diversas imagens de cinema no espaço físico, estando a obra e o corpo do observador em experiência de um espaço-tempo do trabalho de cinema. A imersão e produção deste espaço do vídeo, a partir do trabalho do artista, o público pode confluir em uma possibilidade de observação da obra inacabada, do processo, que é acessada pela ocupação do espaço físicos de signos por meio do som, imagens, frames do objeto/monitor de tv.

 

Referências bibliográficas

C&AMERICALATINA. Lidia Lisbôa. Disponível em: https://amlatina.contemporaryand.com/pt/people/lidia-lisboa/.

C&AMERICALATINA. ROSANA PAULINO: A SUTURA DA HISTÓRIA. Disponível em: https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/rosana-paulino-the-suturing-of-history/.

CULTURA EM CASA. VIDEOPERFORMANCE AKIUE R-EXISTO. Disponível em: https://culturaemcasa.com.br/video/videoperformance-akiue-r-existo/.

FELINTO, Renata.  BIENAL NAIFS DO BRASIL 2020: IDEIAS PARA ADIAR O FIM DA ARTE. 1. ed. SP: SESC SÃO PAULO, 2020. p. 15-16.

JOSECA YANOMAMI: NOSSA TERRA-FLORESTA = JOSECA YANOMAMI: Our forest- land/organização e curadoria Adriano Pedrosa, David Ribeiro: Textos : Bruce Albert (Et al) - São Paulo: MASP, 2022. p 35 - 73 (Textos Denilson Baniwa e Patrícia Ferreira Pará Yxapy).

MAM RIO. Supernova Sallisa Rosa. Disponível em: https://mam.rio/programacao/supernova-sallisa-rosa/. 

MAM.ORG.BR. 36 PANORAMA DE ARTE BRASILEIRA. Disponível em: https://mam.org.br/wp-content/uploads/2020/01/-mam-sertao-catalogo-final-dupla-bx-capa-cor-simulada.pdf.

MAM.ORG.BR. MOQUÉM SURARÍ: ARTE INDÍGENA CONTEMPORÂNEA. Disponível em: https://mam.org.br/wp-content/uploads/2022/04/mam-moquemsurari-catalogo-com-ad.pdf.

MAM.ORG.BR. 36 PANORAMA DE ARTE BRASILEIRA. Disponível em: https://mam.org.br/wp-content/uploads/2020/01/-mam-sertao-catalogo-final-dupla-bx-capa-cor-simulada.pdf.

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